Super banner
Super banner

Aposentado é condenado por estuprar e matar a menina Ana Clara

Aposentado é condenado por estuprar e matar a menina Ana Clara

Foto: Willian Tardelli

Dois anos e dois meses depois de ser preso pela Polícia Civil, o aposentado Gaspar Alves Caldas, 62 anos, foi condenado, na última sexta-feira (12), a 26 anos e 6 meses de prisão em regime fechado por estuprar e matar a menina Ana Clara da Cunha da Mata, 11 anos. O crime aconteceu em Araxá no dia 18 de outubro de 2012 e o corpo da vítima só foi encontrado cinco dias depois no local onde funcionava uma fábrica de asfalto em que Gaspar trabalhou por muitos anos.

Escoltado por agentes penitenciários, o aposentado chegou ao plenário do Tribunal do Júri por volta das 7h45, vindo da Penitenciária de Patrocínio. A chegada do réu foi tensa e a Polícia Militar (PM) precisou afastar as pessoas que estavam em frente ao local para que ele entrasse. Gaspar foi xingado e hostilizado por familiares da vítima, que usavam uma camiseta com a foto da menina e os seguintes dizeres: “Ana Clara, Amor Eterno. Justiça”. O público foi revistado pela PM para ter acesso ao local do julgamento.

Cinco homens e duas mulheres foram sorteados para integrar o Conselho de Sentença que julgou Gaspar. O julgamento foi presidido pelo juiz da vara Criminal da Comarca de Araxá, Renato Zouain Zupo. A acusação ficou por conta do promotor de Justiça Genebaldo Vitória Borges e do advogado da família da vítima, Robson Merola. Os advogados Daniel Rosa e Edenísio Silva Santos foram os responsáveis pela defesa de Gaspar. Edmar Mata e Aline Cunha, pais de Ana Clara, vieram de Belo Horizonte para acompanhar o julgamento.

O julgamento começou com as partes definindo que nenhuma das oito testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa seria dispensada. Em seguida aconteceu a leitura de diversos depoimentos prestados à Polícia Civil durante a Operação Clarear, que investigou a morte da menina Ana Clara. Essa leitura durou cerca de uma hora e meia. Depois disso começaram os depoimentos das testemunhas.

Testemunhas

O mecânico que vendeu uma bicicleta motorizada para Gaspar e fazia a manutenção do veículo foi a primeira testemunha a ser ouvida. O mecânico desmentiu a versão apresentada por Gaspar à polícia, de que a sua bicicleta motorizada teria estragado no dia do crime. O homem disse que o veículo nunca apresentou nenhum defeito. Além disso, uma das filhas do aposentado já tinha dito em depoimento à polícia que no dia em que Ana Clara desapareceu o pai chegou em casa com a bicicleta e jogou água no motor para esfriá-lo, gerando muita fumaça. Para a polícia, isso prova que o veículo estava funcionando normalmente naquele dia.

A segunda testemunha foi um rapaz de 34 anos que contou em detalhes como foi estuprado por Gaspar quando era criança. Ele contou que era vizinho do aposentado e que foi abusado na casa do réu por diversas vezes quando tinha entre 9 e 10 anos de idade. O rapaz alegou que não denunciou Gaspar na época por medo de apanhar dos seus próprios irmãos, que lhe agrediam constantemente pelo fato dele ter um jeito afeminado. A Polícia Civil descobriu essa testemunha através de um amigo dele que sabia do estupro.

Edmar, pai de Ana Clara, foi a terceira testemunha a ser ouvida e contou que estava trabalhando no dia do crime no Centro de Araxá e quando chegou em casa à noite encontrou apenas o filho menor e descobriu o desaparecimento da filha. Ele relatou como foram as buscas por Ana Clara e os boatos do paradeiro da menina que surgiram na cidade. Edmar ainda contou que chamou os seus irmãos que moravam em outra cidade para lhe ajudar nas buscas. Ele confirmou que procurou Gaspar no dia em que a menina desapareceu e o aposentado lhe disse que não a viu naquela dia.  Edmar ainda relatou que o réu foi ao velório, lhe abraçou e chorou com ele.

Aline, mãe da menina, foi a última a ser ouvida antes do intervalo do almoço e contou que estava trabalhando no Tauá Grande Hotel do Barreiro quando o seu marido lhe avisou do desaparecimento de Ana Clara. Ela voltou imediatamente para casa e passou a procurar a filha. Aline disse para o juiz que tem certeza que Gaspar foi o autor do crime devido a tudo que foi apurado pela polícia durante as investigações. Ela negou ter acusado o marido de ser responsável pela morte de Ana Clara durante discussões entre eles causadas pelo fato de Edmar abusar no uso de bebidas alcoólicas.

Depois de um intervalo de uma hora para o almoço, os depoimentos foram retomados e a quinta testemunha a ser ouvida foi o vereador Mauro da SilveiraChaves, ex-inspetor da Polícia Civil que comandou as investigações que culminaram com a prisão de Gaspar no dia 12 de abril de 2013. Mauro relatou que investigou todas as pessoas próximas da menina Ana Clara até chegar em Gaspar, que até um mês antes do crime morava em uma casa nos fundos da residência da menina. O vereador afirmou que o réu não conseguiu explicar o que fez entre 16h e 19h no dia do crime, pois a versão de que a sua bicicleta motorizada estragou foi prontamente desmentida por seu mecânico.

Mauro confirmou que Gaspar admitiu em depoimento ter visto Ana Clara no dia do crime, o que fez dele a última pessoa a estar com a vítima. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, após a prisão do réu, mostram Gaspar dizendo para a ex-esposa que viu a menina no dia do seu desaparecimento. As escutas foram feitas no telefone celular do aposentado, que foi entregue a ele por alguém na cela da delegacia. Mauro disse que o aparelho deve ter sido entregue por um familiar ou advogado. Na escuta, Gaspar pede para a ex-esposa mentir que as filhas não estavam na casa dele no dia do crime, mas a mulher se recusou. As meninas estavam mesmo na casa do pai naquele dia.

Perguntado pelo juiz Renato Zupo se Gaspar era mesmo o autor do crime, Mauro disse com veemência que tem certeza de que o aposentado é o culpado.

Um dos três rapazes que descobriu o corpo de Ana Clara às margens da rodovia que liga Araxá a Uberlândia no dia 23 de outubro de 2012 foi a sexta testemunha a ser ouvida. Ele disse que somente uma pessoa que conhece o local saberia ir até lá. Gaspar trabalhou por muitos anos no local onde o corpo foi encontrado, pois lá funcionava uma fábrica de asfalto.

Um amigo de Gaspar foi a sétima testemunha a ser ouvida. Ele disse que era vizinho dos pais de Ana Clara quando ouviu os dois discutindo três vezes e a mãe da menina dizendo para o esposo que ele era o responsável pela morte da filha. O depoimento desse amigo do réu foi muito confuso e ele caiu em diversas contradições, o que acabou irritando o juiz.

O primeiro homem a ser preso como suspeito de matar Ana Clara, por possuir um perfil pedófilo e ter outras acusações de estupro, foi a oitava testemunha a ser ouvida. Ele admitiu conhecer Gaspar apenas de vista e negou que tivesse o hábito de passar de carro pela rua onde Ana Clara morava para encarar as meninas. O homem disse que no dia do crime passou a tarde em duas oficinas, o que foi confirmado posteriormente pela Polícia Civil. Ele foi a última testemunha ouvida no Tribunal do Júri.

O réu

Gaspar foi ouvido em seguida e negou ter visto Ana Clara no dia em que ela desapareceu. Gaguejando bastante, o réu não foi convincente ao tentar explicar o que fez na tarde do dia do crime. Ele disse que a sua bicicleta motorizada estragou e ao invés de ir para casa, que fica a 450 metros do local onde o veículo parou de funcionar, ele a empurrou por cerca de duas horas até voltar para a sua residência. Gaspar disse várias vezes que não matou Ana Clara porque é um pai de família, mas admitiu que pediu para a sua ex-esposa dizer à polícia que as suas filhas não estavam com ele no dia do crime.

Acusação e defesa

Por volta das 15h50, começaram os debates entre acusação e defesa. O promotor Genebaldo Borges e o advogado Robson Merola tiveram uma hora e meia para convencer os jurados de que Gaspar foi o autor do crime. Robson disse que ouviu o aposentado dizer, um dia depois de ser preso, que viu Ana Clara no dia do desaparecimento nas proximidades da Casa do Caminho e conversou com ela. Para o advogado, o réu negou esses fatos por orientação de seus advogados, pois não conseguiria explicar para os jurados porque não contou isso ao pai da menina quando foi procurado por ele.

Os advogados de defesa Daniel Rosa e Edenísio Santos também falaram por uma hora e meia, mas não conseguiram reverter os fatos apresentados pela acusação. Alegaram que o autor do crime poderia ser o primeiro suspeito preso, o pastor da igreja frequentada pela família de Ana Clara ou até mesmo o pai da menina.

Depois de meia hora de pausa para o lanche, a acusação teve uma hora de réplica e mostrou que o primeiro suspeito, o pastor e o pai da menina têm álibis comprovados pela polícia, ao contrário de Gaspar, que não conseguiu explicar o que fez no dia do crime. A defesa teve mais uma hora para tréplica e tentou usar provas extralegais em uma última tentativa de absolver o réu. Houve discussão entre as partes. Ao final da tréplica, o plenário foi esvaziado e os jurados votaram os quesitos apresentados pelo juiz.

O resultado em todos os quesitos foi de 4 a 0 em desfavor do réu, sendo que, ao completar a maioria de 4 votos, os demais não são apurados. Por volta das 22h25, depois de 14 horas de julgamento, Renato Zupo leu a sentença. Gaspar foi considerado culpado pelos crimes de estupro de vulnerável e homicídio duplamente qualificado. As qualificadoras por motivo torpe foram o abuso da confiança da vítima para impossibilitar a sua defesa e a prática do homicídio para ocultar o estupro.

Condenado a 26 anos e 6 meses de prisão em regime frechado, Gaspar voltou para a Penitenciária de Patrocínio, onde continuará cumprindo a sua pena.

Com Blog do Germano Afonso

Notícias relacionadas