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Diretor Administrativo da CBMM fala sobre os enfrentamentos no período de crise

Diretor Administrativo da CBMM fala sobre os enfrentamentos no período de crise

O diretor Administrativo da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), Antônio Gilberto Ribeiro de Castro, concedeu uma entrevista especial ao Diário de Araxá para falar sobre os efeitos da crise mundial na empresa, expectativas e aprendizados. A mineradora acaba de ser eleita a melhor do Brasil no setor de mineração em 2008 pela revista Exame.

Após uma queda de mais de 50%, corte de adicionais para os funcionários, paralisação na produção devido ao grande estoque e acordo para não haver demissão em massa, a maior produtora de nióbio do mundo já vê o mercado com bons olhos a partir de 2010.

Diário de AraxáQual é a expectativa da CBMM após o forte período de crise?

Antônio Gilberto: Desde o início da crise, a CBMM teve uma redução drástica nas vendas, cerca de 60%. Agora nós sentimos que chegamos no fundo do poço e a queda nas vendas sofreu uma paralisação. Nossa expectativa é, que a partir de agora, nossas vendas comecem a recuperar, e já há sinais de recuperação, muito pouco, mas temos. As vendas pararam de cair e esperamos que num futuro breve retomemos a elevação de nossas vendas.

Diário de AraxáQuais os principais clientes que deixaram de comprar neste período?

Antônio Gilberto: Todos deixaram de comprar. A CBMM vende para a indústria siderúrgica mundial. Noventa e quatro por cento da nossa produção é para exportação e houve um colapso na produção da indústria siderúrgica no mundo. Todos os nossos clientes, de A a Z, diminuíram suas compras, mesmo porque estavam com um estoque grande de nióbio.

Diário de AraxáA economia está se aquecendo. Isto reflete na CBMM?

Antônio Gilberto: O que tem crescido muito são os itens de consumo popular. A indústria siderúrgica vai demorar um pouco mais do que as demais indústrias para sua recuperação.

Diário de AraxáHá expectativa para novos investimentos?

Antônio Gilberto: Estávamos com um crescimento em torno de 15% ao ano e nós estávamos investindo, vislumbrando que a nossa produção continuaria crescendo. Algumas unidades foram terminadas e outras unidades que estavam para ser iniciadas foram postergadas até que o mercado recupere.

Eu não posso dizer se vai ser em 2009, 2010 ou em 2011. Vamos aguardar para ver o que vai acontecer no mercado e a expansão que nós temos que fazer. Ela foi suspensa e voltará assim que o mercado demandar produtos de nióbio. Hoje, estamos com uma capacidade instalada muito acima do que o mercado demanda.

Diário de Araxá – O município sofrerá, por exemplo, com a queda na arrecadação do ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação?

Antônio Gilberto: A CBMM hoje contribui com 70% na arrecadação do município em termos de ICMS. Mas como, geralmente para a arrecadação do município, se pega a média de dois anos, se ocorrer algum impacto negativo, e deve ocorrer, será sentido em 2010 e em 2011. Porque se calcula o VAF (Valor Adicionado Fiscal) com dois anos de defasagem e aplica nos dois anos seguintes.

A expectativa é que se não houver uma recuperação, ainda em 2009 ou no início de 2010, pode afetar a arrecadação de Araxá. Vai depender muito da arrecadação do Estado que também caiu, mas o impacto deve ser para 2010 e 2011.

Diário de Araxá – Há algum tipo de incentivo por parte do governo neste momento de crise?

Antônio Gilberto: Não tem como incentivar. No nosso mercado que é uma aplicação para a indústria siderúrgica, o incentivo não impacta muito. Pode impactar de uma forma, – quando se isenta de IPI os carros e a Linha Branca, aí, sim, se tem mais consumo de aço, que obviamente rebate em mais consumo de nióbio. Mas isto, para nós, ainda não está acontecendo, mesmo porque todas as empresas estão queimando o estoque.

Diário de AraxáOs efeitos da crise foram sentidos pelos funcionários?

Antônio Gilberto: Sem dúvida. Quando a crise começou, nós reanalisamos a nossa posição. Para se ter ideia, estamos produzindo um terço do que se produzia. Poderíamos ter feito uma demissão em massa de funcionários. Mas a empresa, levando em conta que a quantidade de funcionários que tem, a forma que esses funcionários trabalham e como foram treinados para atuar numa empresa específica como a CBMM, foi feito um acordo com os funcionários.

A empresa e o sindicato, apoiado pelos funcionários, reduziram alguns adicionais, seja de turno, que a gente pagava 10% do salário e foi suspenso temporariamente. O adicional noturno, que a legislação manda pagar 20%, nós chegamos a pagar 40%.

Não vamos mais pagar hora extra, mesmo porque não temos condições devido à paralisação que está tendo. Para qualquer hora extra foi criado o banco de horas e, a partir de agora, os funcionários não tiram 20 dias de férias, tirarão 30 dias de férias para não receber abono pecuniário. 

Em troca disso, a empresa concordou, mesmo estando produzindo um terço do que produzia, de não demitir ninguém durante o período de 12 meses. Obviamente que esta opção de não demitir ninguém vale para as pessoas que estiverem colaborando. O funcionário que estiver complicando, e não estiver colaborando dentro da empresa, nós não teremos este compromisso e ele poderá ser demitido, mas não haverá demissão em massa.

Diário de AraxáMas isso vale apenas neste período de 12 meses?

Antônio Gilberto: Sim. Num período de 12 meses até vermos o que vai acontecer no mercado. Nós fizemos este acordo em junho e ele prevalece até maio de 2010. Então, até maio de 2010 nós não vamos fazer demissão em massa.

Diário de Araxá – A produção da empresa está parada neste mês. No próximo haverá a retomada?

Antônio Gilberto: Dia 3 de agosto nós voltamos com a produção. Paramos porque estávamos com um estoque alto e não havia a necessidade de produção. Hoje, fica caro ficar produzindo e estocando. Então o fizemos? Quem tinha direito a férias e, mesmo as pessoas que não tinham direito, nós fizemos acordo e antecipamos as férias, e colocamos cerca de 350 a 400 pessoas de férias. Hoje não há uma máquina funcionando na empresa.

Diário de Araxá – A sua análise para o mercado é otimista?

Antônio Gilberto: A minha análise é otimista. Eu acredito que o mercado não vai voltar aos níveis que estava nos meses de setembro e outubro do ano passado, mas as economias estão voltando a aquecer. Acho que a crise já está passando e ela vai se corrigir gradativamente, não de uma hora para outra, como foi a queda.

A retomada da economia vai ser um pouco espaçada. Acho que até o final de 2009 e o primeiro semestre de 2010 as economias estarão bem mais recuperadas.

Diário de AraxáO que dá para tirar de positivo com a crise?

Antônio Gilberto: Eu acredito que toda crise se tem sempre um aprendizado. Esta é uma crise, que primeiro foi uma crise de confiança, depois passou para uma crise de desconfiança, começando nos Estados Unidos e se espalhando para o mundo todo.

Ou seja, a CBMM, que não tinha nada a ver com a crise, foi imensamente afetada. Todo mundo tem um aprendizado e eu acho que voltar o mercado como estava naquela época em que todo o mundo estava alavancando. O mercado em todo o mundo vai ficar muito mais seletivo e muito mais exigente para a concessão de crédito para todos.

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