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Intempéries Olímpicas

Intempéries Olímpicas

Aos trancos e barrancos, comitê, governos e prefeitura organizaram a Olimpíada no Brasil. Contratempos que vão desde a crise político-econômica, epidemias de zika, dengue e chikungunya, passando pelos descalabros de más gestões, declarações destemperadas até ameaça terrorista iminente fazem deste o pior momento para a realização dos Jogos.

Ocorre que as intempéries Olímpicas não devem ser personificadas na figura do brasileiro, deste ou daquele governante. O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, desembarcou no país nos apontando o dedo em riste, em clara personificação: “sabíamos que os brasileiros gostam de terminar as coisas no último segundo”, gracejou. Oras, em Londres, na última Olimpíada, o sistema de segurança foi alterado nos 45 do segundo tempo. No berço Olímpico, em Atenas, nos Jogos de 2004, houve atrasos nas obras. Em Pequim, na China, os atletas tiveram de tomar fôlego em meio aos piores índices de poluição do planeta — o qual o governo chinês não conseguiu reduzi-lo para realização da Olimpíada 2008. Contudo, envergonhar diante de problemas de encanamento na Vila Olímpica, diante do estado fétido da Baía de Guanabara ou da violência no Rio de Janeiro é atestar o complexo de vira-lata do brasileiro. Nesse sentido, deveríamos nos preocupar menos com a declaração da chefe da delegação australiana, Kitty Chiller, e mais com as recorrentes asneiras que saem da boca do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Mais com as vaias entoadas por brasileiros contra os seus próprios do que com eventuais desagrados apontados por estrangeiros.

Enquanto a França perde a guerra contra o terror, os Estados Unidos da América confirmam Donald Trump como candidato republicano, o Oriente amarga a pior crise migratória da história e o Brasil sedia a Olimpíada 2016 — aos trancos e barrancos, reforço. É preciso abaixar os dedos em riste e abraçar, ao invés de apontar. Dar a largada para os Jogos no Brasil, em plena crise, por si só, já merece a medalha.

A vulnerabilidade das nações está cada vez menos para o grau de desenvolvimento econômico e de educação de um povo e mais para questões humanitárias. Os Estados Unidos superaram o colapso econômico mas amarga problemas seculares; o povo britânico, notável pela cordialidade, tropeça na democracia e avaliza a saída da União Europeia, em um ímpeto xenófobo e isolacionista.

Contudo, a goleira da seleção feminina de futebol norte-americana comete um infeliz erro ao zombar dos brasileiros, exibindo uma máscara contra mosquitos — em clara referência às nossa falhas epidemiológicas —, enquanto o seu país vem repetindo hoje os mesmos conflitos raciais de séculos atrás. País esse, inclusive, que bateu cabeça para organizar a Olimpíada de Atlanta, em 1996, quando a simpática goleira tinha 15 anos e, portanto, vale lembrá-la: o trânsito entrou em colapso, o sistema de computadores falhou, deixando inúmeros atletas sem tomar conhecimento de seus desempenhos nas provas, e um atentado matou dois e deixou centenas de feridos.

A história milenar dos Jogos Olímpicos comprova: não existe Olimpíada perfeita, e não será dessa vez que teremos uma. Teremos Olimpíada, contudo.

Por Guilherme Scarpellini

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