Super banner

Projeto Memória homenageia ‘Companheira Carmela Pezzuti’

Projeto Memória homenageia ‘Companheira Carmela Pezzuti’

DA REDAÇÃO – Durante a programação do evento Uniaraxá Recebe (Unir), o curso de Direito destacou uma palestra com o objetivo de aprofundar no resgate a preservação da história de Araxá, por meio do Projeto Memória, com foco inicial sobre a Ditadura Militar.

E nesse contexto, três personagens araxaenses em especial simbolizam árdua luta contra a repressão e resistência: Carmela Pezzuti e seus dois filhos, Ângelo Pezzuti da Silva e Murilo Pinto da Silva, que se engajaram para acabar com o regime de um Brasil manchado por 21 anos.

Idealizado pelos professores Bruno Barbosa Borges e Elizabeth Futami, e apoio da acadêmica Kelly Orçay na organização e entrevistas, o Projeto Memória relembrou a trajetória de Carmela Pezzuti e seus filhos por meio de uma palestra promovida recentemente no Tribunal do Júri do Uniaraxá, com destaque para as presenças de Susana Pezzuti de Aguiar e José Pedro Pezzuti de Aguiar, irmã e sobrinho de Carmela, que foram homenageados ao final da palestra.

Nascida em 1926, Carmela Pezzuti, filha do renomado médico Dr. Pedro Pezzuti que dirigiu a Santa Casa e de Tiburcia de Ávila Pezzuti, teve dois filhos na união com Theofredo Pinto da Silva; o mais velho, Ângelo, nascido em 1946, e Murilo, nascido no ano seguinte.

Em meados dos anos 60, os filhos se mudaram para Belo Horizonte, onde cursaram o ensino médio e na juventude, Ângelo pelo movimento estudantil da UFMG, onde cursava Medicina, e Murilo, intelectual que levava consigo a aptidão pela Filosofia, Sociologia, Política e Música, se envolveram na luta pela liberdade de um país que acabara de iniciar o período mais negro de sua história. Com o fim do seu casamento, Carmela, aos 36 anos, foi atrás dos filhos, juntando-se a eles pelo mesmo objetivo.

Em 1968, entrou na organização denominada Comando de Libertação Nacional (Colina), no qual seu filho Ângelo fazia parte da primeira direção e incentivou o irmão mais novo a fazer parte da militância. Mais tarde, todos seriam presos pelo Regime Militar.

A partir daí, a vida de Carmela não foi fácil. Entrava e saia das prisões onde era torturada, com muita violência, mas os torturadores não conseguiam ouvir de sua boca nenhuma denúncia que pudesse por em risco a vida de seus companheiros e de seus filhos.

Seus filhos, Ângelo e Murilo, eram os meninos com quem ela lutou toda a vida. Mas o que é interessante é que ela lutou para conseguir a libertação do seu país, com muita coragem e firmeza, sem nunca perder o gosto pela vida.

Em janeiro de 1969, foi presa pela primeira vez e levada para a Penitenciária de Mulheres em Belo Horizonte, onde foi longamente interrogada e posta na “surda”. Foi solta e saiu em liberdade condicional.

Entretanto, seus filhos que também estavam presos em BH foram transferidos para a Vila Militar no Rio de Janeiro, onde sofreram novos interrogatórios, torturas e, em seguida, foram transferidos para a Penitenciária de Presos Políticos em Juiz de Fora.

A fim de continuar a luta Carmela se juntou ao grupo Var Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), no Rio de Janeiro, e com o codinome “Lúcia” foi descoberta e presa em abril de 1970. No quartel de Polícia do Exército foi duramente torturada com choques elétricos e espancamentos.

No mesmo ano de 1970, foi sequestrado o Embaixador Alemão e, em troca dele foram libertados, entre outros presos, Ângelo e Murilo. Em dezembro, em troca do Embaixador Suíço, também sequestrado, Carmela saiu da prisão banida e exilada para o Chile sem nunca ter sido julgada e condenada.

No Chile Carmela fez todo tipo de trabalho, estudou até que chegou o Golpe de Estado em 11 de setembro de 1973, obrigando-a a se refugiar na Embaixada da Itália enquanto os filhos entravam na Embaixada do Panamá.

Foi assim que começou a vida de exilada de Carmela na Itália e dos seus filhos na França. Em Roma ganhava sua vida trabalhando como esteticista sem deixar de participar dos comitês políticos italianos e brasileiros.

Ia muitas vezes a Paris para visitar os filhos e foi durante uma destas viagens que Ângelo morreu em um acidente de motocicleta enquanto voltava para casa após o trabalho. O choque e a dor foram terríveis. No dia do velório de Ângelo no Père Lachaise reuniram-se os exilados de toda a Europa para dar a última homenagem ao querido guerrilheiro.

Carmela voltou para Roma destruída moral e fisicamente, mas continuou a trabalhar levando à frente a luta para conseguir a Anistia para todos os perseguidos políticos brasileiros.

Em 1979 a Anistia foi decretada no Brasil e Carmela voltou ao seu país de origem deixando em Roma muitos amigos e admiradores que tinha conseguido envolver na luta para a libertação do seu País.

Em Belo Horizonte trabalhou como esteticista e como voluntária na Associação de Apoio a Creches Comunitárias – “Casa da Vovó”. Seu filho Murilo foi para o Mato Grasso onde fundou a Associação de Apoio às Comunidades Carentes do Mato Grosso. Atendendo ao chamado de seu filho Carmela foi se juntar a ele em 1984 para desenvolverem o trabalho com os camponeses, até que no ano 1990 ela assistiu a trágica morte do seu segundo filho.

Carmela faleceu aos 82 anos, em Belo Horizonte, no dia 9 de novembro de 2009, deixando muitas saudades e, sobretudo, exemplo extraordinário de combatividade e coragem para todos aqueles que a conheceram e acompanharam a sua trajetória de luta.

Com Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania 

Notícias relacionadas