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Pleno (des)emprego

Inflação, recessão e desemprego. Os três elementos invariáveis à qualquer crise econômica são velhos (e indesejados) conhecidos dos brasileiros. A acelerada queda na oferta de postos de trabalho, contudo, tem se mostrado o mais corrosivo dos componentes desta crise. De acordo com os números divulgados pelo Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged), em 2015, foram fechadas 1.527.463 vagas no período 12 meses, traduzindo-se na maior taxa de desemprego desde 2012 – chegando perto dos 9% em julho de 2015. Sem trabalho, a vulnerabilidade diante da alta dos preços e da estagnação econômica se torna ainda maior, afastando para mais longe a tão ensejada retomada do crescimento. Um quadro sem precedentes para a minha geração, sobretudo para os que nasceram na década de 1990 – período de  instabilidade monetária e hiperinflação – mas que nos foi menos doloroso em virtude da pouca idade. Passados 26 anos, nos deparamos inertes diante de uma retração econômica acentuada pela crise política e moral.

É nesse tabuleiro truncado que terão de movimentar a novas peças da equipe  econômica nomeada pela presidente Dilma Rousseff. A aposta na reforma da Previdência Social pode ser um dos pilares de reação, mas é preciso mais do que isso. É fundamental uma agenda contundente, que incida diretamente na perda desenfreada dos investimentos, que resgata a credibilidade do país. Faz-se necessário, de imediato, criar condições favoráveis de atravessarmos este período com o menor impacto possível para a nação.

Ocorre que, em dezembro último, acatado o pedido de impeachment da chefe do Executivo, a pauta econômica ficou em segundo plano. Desde então, o país parou — ou melhor, vegetou, já que havia parado antes. Não se discutiu a retomada do crescimento, não se voltou para o ajuste fiscal e, tampouco, demonstrou maiores preocupações com o rebaixamento da nota de crédito do Brasil. A mudança nos ministérios da Fazenda e do Planejamento, Orçamento e Gestão veio ao final do mês, cheirando mais à adequações políticas institucionais do que a um ato propositivo, de fato. E assim, o ano virou.

Demos as boas-vidas a 2016, e o brasileiro segue, todavia, amargando na pior crise econômica dos últimos 20 anos. São 9 milhões de pessoas disputando por um mercado cada vez mais apertado. Grande parte dessas pessoas já integravam o mercado de trabalho antes, mas viram seus postos se exaurirem em meio às demissões em massa, sobretudo no setor industrial. O que dirá então dos recém-formados, sem experiência de trabalho, que enfrentam esse cenário tão adverso? Quais são as chances dessas pessoas de encontrarem oportunidade de emprego diante de tais circunstâncias? Remota, eu diria. Ainda que tal condição estimule a criatividade e o empreendedorismo, há de se considerar, contudo, que o jovem recém-formado depende do ingresso no mercado de trabalho para sacramentar a sua formação. Afinal, ninguém termina a faculdade com um fervoroso espírito empreendedor, dando início a um grande e inovador negócio. Salvo raríssimas exceções, é claro. São de milhares de exímios teóricos que deparam com as portas fechadas no mercado de trabalho, dispensando-lhes a oportunidade de pôr em prática as suas formações. Faz-se primordial, portanto, um cenário de minimamente favorável para alimentar a eterna formação da nova força de trabalho. Para 2016, no entanto, difícil ser otimista diante de projeções tão pessimistas.

Por: Guilherme Scarpellini

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  • Excelente artigo!! Digno de colunista de grandes jornais e revistas! Meus parabéns pela competência e profissionalismo!!

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