Era meia-noite de sexta-feira, 20 de maio último. Em uma construção escura no centro de Bom Jesus — município de 22 mil habitantes nos confins do Piauí —, uma menina de 17 anos, vítima de violência sexual, era encontrada pela polícia. Estava amarrada, amordaçada e desacordada. Quando retomou à consciência, alegou ter sido violentada por cinco rapazes.
No dia seguinte, sábado, 21, a quase três mil quilômetros de Bom Jesus, uma matilha de 30 homens atacava outra garota. Desta vez, na olímpica Rio de Janeiro. Na Zona Oeste da capital carioca, a vítima era uma adolescente de 16 anos.
O vídeo que registrou o ato circulou pelas redes de forma igualmente criminosa. Em foco, uma adolescente, ainda sangrando e desacordada, após ter sido barbarizada pelo grupo de animais.
Entre um caso e outro, 130 mulheres foram estupradas no Brasil. No ano passado, o país registrou 47.646 casos de estupro, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Brasil: 1 estupro para cada 11 minutos.
86% das mulheres já foram assediadas nas ruas, segundo a ONG ActionAid. 90% das mulheres brasileiras que vivem em cidades grandes temem ser estupradas — números do Datafolha.
Neste primeiro semestre de 2016, a média foi de 13 estupros por dia no Rio de Janeiro. Dado do Instituto de Segurança Pública (ISP).
A desigualdade de gênero é o elemento conformador da violência sexual. Um crime que não discrimina cor, classe social ou nível de educação. Na maior potencia do mundo, nos Estados Unidos da América, casos de estupros coletivo nas universidades são recorrentes. Na Índia, uma das maiores economias do planeta, os números de violência contra a mulher são os maiores do mundo. No Brasil, país que amarga níveis medíocres de educação, vive o mesmo problema com índices similares. Contudo, a questão não é econômica, política ou regional. É pior: uma moléstia social. Algo como a “cultura do estupro” que os cartazes país afora denunciam.
Corolário das sociedades machistas, patriarcais e misóginas como a nossa.
Um último dado, este do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): 58% dos brasileiros concordam com a afirmação “Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.
Há alguma dúvida de que vivemos a plenitude da tal “cultura do estupro”? Oras, a Índia é aqui.
Por Guilherme Scarpellini