![Filhos da mineração](https://www.diariodearaxa.com.br/wp-content/uploads/2016/01/Guilherme-Scarpellini.jpg)
Como se sabe, os municípios que dispõem de grandes reservas minerais contam em suas receitas com grandes contrapartidas das companhias extrativistas. Mas, e se não houvesse a mineração?
![Filhos da mineração 1 Filhos-da-Mineração3](https://www.diariodearaxa.com.br/wp-content/uploads/2016/01/Filhos-da-Mineração3.jpg)
“Se fechar a mineração, a prefeitura fecha as portas”. As palavras do prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), proferidas dias após o maior desastre ambiental da história do país, dão conta de um problema que também diz respeito a nós, araxaenses: a dependência sobre a atividade minerária. Salvo as devidas proporções, nossa cidade diversificou a economia e, ao longo dos anos, consolidou um comércio forte e participativo. Acolhemos indústrias e investimos na prestação de serviços — diferentemente de Marina, que se manteve quase que exclusivamente da mineração e, em menor parte, do turismo.
Ainda assim, a despeito de certa versatilidade econômica, é notável o quanto a receita de Araxá está demasiadamente atrelada à exploração mineral. Números divulgados pela Prefeitura Municipal de Araxá, em 2013, revelam que 70% dos impostos arrecadados naquele período corresponderam aos tributos incidentes à exploração do nióbio. Em 2015, como observado no Portal Transparência da prefeitura, a maior receita tributária do município veio da Compensação Financeira Pela Exploração dos Recursos Minerais (Cefem) — o chamado de royalty do minério. As outras grandes cifras correspondem aos repasses das esferas estadual e federal, como o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), respectivamente.
Diante desse quadro, é indiscutível o cenário de submissão econômica, quando setores de serviço, comércio e indústria são relegados ao segundo plano na conjuntura da receita municipal. Mas, e se não houvesse a mineração?
São muitas as variáveis que ameaçam uma economia sob tal condição. A começar pelo o que é certo e que não se trata de uma possibilidade: os recursos são esgotáveis. Ainda que estima-se duradoura longevidade para as reservas de nióbio em Araxá, renegar a sua finitude seria imprudente. Ademais, toda e qualquer grande empresa está sujeita à adversidades (em menor ou maior escala). Tomemos como exemplo a Petrobras, que ruiu em meio aos escândalos de corrupção e às prisões de seus dirigentes. Já a Samarco da Vale e da australiana BHP Billiton se esvaiu em lama, protagonizando um desastre sem precedentes no país. O preço das commodities, a crise do mercado internacional e a desaceleração chinesa também são variáveis intimamente ligadas ao sucesso das exportações de minério e, por conseguinte, influem diretamente no volume das receitas dos municípios.
![Filhos da mineração 2 Bento Rodrigues, distrito de Mariana (Central), arrasado pela lama.](https://www.diariodearaxa.com.br/wp-content/uploads/2016/01/Filhos-da-Mineração1.jpg)
Imortalizada nos versos de Carlos Drummond de Andrade, a “cidade de ferro” como ficou conhecido o município de Itabira (Central) pela exploração do minério de ferro, está na iminência de ter o título aletrado para a “cidade fantasma”. Isso porque em 2015 a cotação do minério no mercado estrangeiro atingiu a menor cota em dez anos, afundando a receita do município. Com efeito, Itabira arrecadou R$ 10 milhões aquém do esperado, resultando em demissões em massa, quedas bruscas no comércio e serviços, além de intenso êxodo de parte da população.
Na escala nacional, segundo dados do Ministério do Trabalho, 10 mil trabalhadores do setor minerário foram demitidos no país — o maior número desde 2004. São estatísticas que reiteram a necessidade de diversificação, com vistas a reduzir a dependência econômica. É nesse ponto que deveria entrar incentivos dos governos estaduais para que, valorizando os pequenos produtores e microempresários, evitem que os filhos da mineração se tornem em órfãos precocemente.
![Filhos da mineração 3 Escoamento do minério de ferro em Itabira (Central).](https://www.diariodearaxa.com.br/wp-content/uploads/2016/01/Filhos-da-Mineração2.jpg)
Por: Guilherme Scarpellini