Imagine consumir um alimento em sua dieta diária que, apesar de ter o mesmo sabor e aparência de sempre, agora te fornece mais nutrientes do que o usual e ainda previne doenças? Pesquisas desenvolvidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) buscam justamente isso: criar alimentos mais saudáveis, a partir da troca de componentes no processo produtivo ou do acréscimo de ingredientes naturais, por exemplo.
O Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT) conduz pesquisas para aplicação na indústria de laticínios. Vinculado à Epamig, o instituto concluiu projeto que desenvolveu um queijo prato que previne doenças oculares.
“O queijo prato tradicional leva urucum como corante, mas, apesar de ser natural e não causar nenhum problema, o urucum também não traz benefícios. Pensei: por que não trocar o corante por outro que, além de dar a cor ao produto, também fosse bom para a saúde?”, conta a pesquisadora que coordenou o projeto, Denise Sobral.
A utilização do corante luteína na fabricação do produto foi testada e deu certo: os resultados apontaram a absorção de 6mg de luteína, quantidade diária necessária para a reposição dessa substância no organismo, em cada 100g de queijo. O mais importante, porém, é que a cor e o sabor do queijo prato não sofreram alterações.
Com propriedades antioxidantes, a luteína previne doenças e lesões oculares, como a catarata e a degeneração macular, doenças que podem levar à cegueira. Como a substância não é sintetizada pelo organismo humano, é necessário que seja suprida por meio da alimentação. “O próximo passo é tentar reter ainda mais a luteína no queijo, de forma que uma porção de 30g do produto já supra a quantidade diária necessária”, finaliza Denise.
Outros lácteos incrementados
Outras pesquisas desenvolvidas no Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT) buscam agregar benefícios aos produtos lácteos. A pesquisadora Renata Golim Costa, por exemplo, trabalha com a redução do teor de sódio no queijo minas padrão. “Diminuir a quantidade de sódio no queijo não significa só reduzir o teor de sal, uma vez que ele é fundamental para controlar a maturação do queijo. Isto é, se só tiramos o sal, o queijo pode amargar, ficar mole, muito úmido e mais perecível”, explica Renata.
Ao substituir parte do cloreto de sódio utilizado na produção do queijo por cloreto de potássio, a pesquisadora conseguiu reduzir quase 35% do sódio no produto, sem perder o sabor ou alterar nenhuma outra característica.
Já o pesquisador Junio de Paula queria aproveitar o soro de leite, produto bem nutritivo e que normalmente é descartado. Ele criou uma bebida láctea acidificada, inédita no mercado, que também é enriquecida com luteína. “Se comparada a refrescos e refrigerantes, a bebida apresenta maior valor nutricional para o consumidor, por possuir proteínas, vitaminas e minerais”, diz. Agora, ele busca gaseificar mais a bebida, para estender sua validade de 90 para 120 dias. “O novo produto já foi desenvolvido e está em fase de protótipo. Ficou uma delícia e nossa ideia é que, com ele, as crianças e adolescentes consumam mais leite”, defende.
Soja mais saborosa
Alimento versátil e funcional, a soja fornece nutrientes e traz diversos benefícios à saúde, auxiliando na prevenção de doenças cardiovasculares, por exemplo. Porém, no Brasil pouco se consome o grão, apesar de o país ser um dos maiores produtores de soja. Para conferir um sabor mais suave e até mesmo aparência melhor à soja, a pesquisadora da Epamig regional de Uberaba, Ana Cristina Juhász, começou a estudar o grão.
“Desenvolvemos três variedades a partir de hibridação, isto é, do cruzamento de plantas com características distintas, que ficam combinadas e geram uma variedade melhor”, conta. São três cultivares, como são chamados os grãos: amarelo, marrom e preto. A última, lançada no ano passado, é mais macia e saborosa do que as demais, tem o ciclo menor para ao produtor e possui antioxidantes naturais.
Segundo Ana Cristina, o Programa de Melhoramento Genético da Soja para Alimentação Humana, desenvolvido pela Epamig, Embrapa e Fundação Triângulo, é contínuo e busca grãos de interesse tanto para o produtor quanto para o consumidor. “Queremos que a soja chegue à mesa das famílias e até à merenda escolar”, pontua.
Doces funcionais
Na Universidade Federal de Lavras, no Território Sul, a Fapemig financia e apoia pesquisa que busca produzir doces de baixa caloria e enriquecidos com fibras com capacidade prebiótica, isto é, que auxiliam no bom funcionamento intestinal.
Os doces pesquisados também exercem função antioxidante, isto é, ajudam a prevenir doenças. Produzidos com diferentes frutas do cerrado, como marolo, graviola e maracujá doce, eles são feitos em um processo a vácuo, que os torna mais nutritivos. “Estes aspectos constituem diferenciais em relação a um doce normal, que é rico em açúcares e pode ser pobre em nutrientes, dependendo da fruta e do processamento térmico”, explica a coordenadora da pesquisa, Soraia Vilela Borges.
Soraia também pesquisa a produção de óleos essenciais, como de alecrim e orégano, na forma desidratada. “Eles ficam mais estáveis, e, quando adicionados aos alimentos, são liberados de forma gradual, então suas propriedades são mais aproveitadas. Além disso, são substâncias naturais, ao invés das sintéticas normalmente utilizadas, então enriquecem a dieta”, relata.