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Moradores processam mineradoras e pedem indenização de R$ 16,3 milhões

Moradores processam mineradoras e pedem indenização de R$ 16,3 milhões

Depois de constatar que a água no Barreiro contém presença de bário além do valor máximo permitido para o consumo, a Associação dos Moradores do Barreiro entrou com ação judicial contra as mineradoras Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e Bunge Fertilizantes pedindo a indenização de R$ 16,3 milhões para as cerca de 120 famílias que moram no complexo. O processo foi protocolado na Justiça ontem (6) e, segundo a advogada que move a ação, as empresas devem ser notificadas na semana que vem.
 
Os laudos das análises solicitadas pela associação nos laboratórios Araxá Ambiental e Centro de Sedimentometria e Qualidade de Água (Belo Horizonte) apontam índices de 1,07 miligramas do minério por litro de água (mg/l) e 1,36 mg/l, respectivamente.
 
Segundo a portaria n° 518/2004 do Ministério da Saúde, o valor máximo permitido (VMP) para o consumo da substância é de 0,7 mg/l. Os exames foram solicitados pelo presidente da Associação dos Moradores do Barreiro, Gilson Baltazar dos Santos. O local não conta com tratamento de água e esgoto e os moradores são obrigados a utilizar fossas.

“A cada dia que passa os nossos moradores têm mais problemas sérios de saúde e, como foi constatado nas duas análises, a água está contaminada. Além disso, o meu pai e outros moradores já morreram de câncer e eu tenho certeza que foi por causa dessa água”, afirma Gilson.

A advogada Márlia Aparecida da Silva diz que a ação judicial foi baseada na perda da saúde de todos os moradores que estão sofrendo danos irreversíveis e irreparáveis. Ela diz que o bário não é um elemento naturalmente encontrado na água.

“Levando-se em consideração que o bário é extraído durante a manipulação do nióbio, que é retirado daqui pela CBMM, a empresa é a responsável. A Bunge também é responsável, solidariamente, porque a água passa por dentro da empresa. Ela deveria estar verificando isso. A vizinhança não pode pagar pela negligência das mineradoras”, explica a advogada.

A assessoria de imprensa da CBMM informou que a empresa não vai se pronunciar sobre o caso porque ainda não foi notificada.

A Bunge não retornou o contato com a reportagem até o fechamento desta matéria.

O drama dos moradores

O pintor Wesley Leonardo da Silva conta que o seu irmão tem sérios problemas nos rins por causa da água consumida. “Não adianta nem ele fazer tratamento porque a dor vai voltar mesmo”, reclama.

A dona-de-casa Suzana de Fátima Gervásio também diz que está com sérios problemas nos rins. “Além de não ter água tratada, há casos em que ficamos vários dias sem o abastecimento. Eu já tive que buscar aquela água suja do lago do Barreiro, cheia de peixe morto, de cobra morta, para eu e minha família não passar sede”, diz.

O comerciante José Carlos Vale afirma que não consome água do local há mais de cinco anos. “Desde então virou rotina eu ter que buscar água na fonte da Cemig. Aqui em casa a água do Barreiro é usada na lavagem de roupas e limpeza geral da casa.”

O chuveiro da casa do eletricista Luciano Tomé precisa ser desmontado periodicamente para a retirada do acúmulo de uma substância que ele suspeita ser resto de minério.

Uma outra substância é encontrada na casa de Luiz Gonzaga da Silva, de 75 anos, que sempre morou no Barreiro. “Parece terra, né? Mas eu tenho certeza que é porcaria que jogam na água. E é a única coisa que eu tenho para beber. Tem dia que eu não agüento de tanta dor que sinto nos rins e na boca do estômago.”

Mesmo com tantos problemas, cada morador encerrou a entrevista com uma só frase. “Eu ainda tenho a esperança de poder viver com dignidade.”

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