O ensino a distância no Brasil vem de longa data, realizado geralmente, através de correspondências. Mas foi nos últimos anos que este modelo ganhou maior adesão por parte das instituições, com o avanço das tecnologias, especialmente com a popularização do uso do computador e da internet. Aulas são ministradas virtualmente, em tempo real, e os professores não estão presentes na sala de aula e sim na tela de um monitor.
O ensino presencial, no entanto, onde o professor encontra-se junto ao aluno em tempo integral, ainda é o mais utilizado pelas universidades e defendido por uma expressiva parcela de educadores. O Centro Universitário do Planalto de Araxá (Uniaraxá) pratica a educação a distância apenas como apoio ao ensino presencial.
Manter a mesma qualidade e rigor de todas as atividades acadêmicas é o grande desafio das instituições que vêm adotando o ensino a distância. Por outro lado, a troca de experiências, o contato interpessoal, a interatividade, são fatores que contam muito na opção por uma educação que capacite para o mercado de trabalho, pois, apesar do acelerado avanço tecnológico, o diferencial do século 21 é o ser humano e a sua capacidade de se relacionar com as pessoas.
A educação presencial, onde professores e alunos se encontram sempre num local físico chamado sala de aula, conta com um ingrediente imprescindível à formação do ser humano e que jamais sairá de moda: a afetividade. Por isso, educadores convictos desta missão defendem a modalidade tradicional de ensino.
Um exemplo é a vice-reitora do Uniaraxá, professora Lídia Maria de Oliveira Jordão Rocha da Cunha. Ela não concebe a idéia de se pensar em uma faculdade para jovens sem o contato presencial com o professor, principalmente porque são pessoas que ainda estão em formação de personalidade, e considera o contato pessoal, o calor humano, a capacidade de interação, necessários para a formação profissional e humana deste grupo.
Isso vale também para outro grupo de universitários optante pela profissionalização tardia ou reprofissionalização. A convivência desses alunos com os acadêmicos mais jovens é uma experiência única de interagir com um grupo heterogêneo, proporcionando troca de conhecimento e experiências de vida, partilhando a descoberta de um modelo de escola que, quando jovens, não tiveram oportunidade de frequentar.
“O ensino superior está na fase da interiorização. Não é como há 30 anos, quando muitos cursos só eram oferecidos em capitais ou grandes centros. As escolas de terceiro grau estão nas cidades do interior e, se elas estão mais próximas das pessoas, o ideal é que os universitários estejam nas salas para se enriquecerem com os relacionamentos, com a análise de situação em grupo, com a troca de experiências”, enfatiza a experiente professora.
Convivência e experiência
A classe universitária acostumada ao modelo tradicional ainda não consegue vislumbrar uma mudança de comportamento e metodologia nas instituições de ensino. A acadêmica Vanessa Rodrigues do Prado, 20 anos, que cursa o 4° período de Administração no Uniaraxá, confessa que não conseguiria aprender da mesma forma sem o contato direto com o professor.
Ela diz que acha importante tirar dúvidas na hora que surgem, e o contato com as pessoas no campus é fator fundamental para a estudante. “A convivência na sala de aula é uma oportunidade para construir o aprendizado a partir da troca de experiências e dificuldades”, comenta.
Vanessa afirma que avaliou a estrutura física do Uniaraxá antes de escolher a instituição que iria cursar por considerar importante para a sua boa formação acadêmica a disponibilidade de espaços competentes para ampliar seus conhecimentos, tanto na área de ensino como de pesquisa.
A diretora do Instituto de Ciências da Saúde, professora Juliana do Prado Silva Lemos Rios, também acredita que é fundamental para todos os tipos de aprendizado estabelecer um vínculo técnico e afetivo entre professores e alunos.
“A aprendizagem passa pelo campo das emoções, pelo contato e troca de experiências. Fica mais fácil quando o aluno tem a oportunidade de esclarecer dúvidas no momento exato em que elas surgem”, avalia. Ela destaca também que no Uniaraxá o professor tem uma sensibilidade diferenciada pelo aluno.
“Na maioria das vezes, há uma relação de amizade, sabe-se quem é o aluno, quem são seus pais, onde ele trabalha, as suas dificuldades”, acrescenta.
A professora percebe, ainda, que os alunos aprovam essa relação interpessoal. “Mesmo com todas as tecnologias que a Instituição disponibiliza através do Portal Universitário, constatamos que eles apresentam certa resistência quando os contatos são feitos por e-mail. E não é por dificuldade em operar um computador ou falta de internet. Eles querem entregar um texto, perguntar, conversar pessoalmente. Eles têm necessidade de contato com o professor”, observa.
Para Maria José Mendes Bertolino, que cursa o 4° período de Enfermagem, estar no Uniaraxá é a realização de um sonho. Ela trabalha na área há 21 anos e passar no vestibular, fazer um curso superior, tem sido uma experiência única.
Apesar de estar no mercado de trabalho desde os 16 anos e ter muita experiência prática nesta função, o relacionamento com os professores e as atividades acadêmicas completam o conhecimento adquirido na profissão.
“É muito diferente de aprender fazendo. O encontro diário com os professores e os colegas, o ambiente do campus, os relacionamentos que são construídos aqui, tudo isso ajuda muito e fica marcado na vida da gente”, opina a estudante.
Professores concordam que a vocação para o ensino envolve sentimento, afetividade, fatores que não podem ser instrumentalizados pela tecnologia. Por isso, as salas de aula nunca ficarão vazias. Serão sempre frequentadas por mestres e aprendizes.
Para o coordenador do curso de Fisioterapia, professor e mestre Fabrício Borges Oliveira, o diferencial do ensino presencial está na formação em termos de valores éticos, pessoais e de profissionalismo. Questões que são passadas no contato professor/aluno implicam diretamente melhores resultados.
Segundo ele, no mundo concorrido, onde as pessoas enfrentam um cotidiano conturbado, o valor afetivo, a ausência de impessoalidade, fazem uma grande diferença e a relação de amizade entre professor e aluno é um grande diferencial.
“O professor desempenha o papel de mediador, de instrumentador na transformação de conhecimentos e, às vezes, chega a ser um confidente. A presença física do professor norteia o desenvolvimento profissional e o aluno aprende com as atitudes. A troca de experiências completa a formação e a construção do conhecimento; há mutualidade até em temos de resultados aplicáveis para o bem comum na formação de grandes profissionais e na retribuição à comunidade”, defende o professor.
De acordo com o professor e mestre Válter Gomes, reitor do Uniaraxá, a instituição está preparada para adotar o método de educação à distância. A comunicação digital já funciona eficientemente através do Portal Universitário há três anos e é modelo de sucesso entre as universidades brasileiras.
Entretanto, segundo ele, o mais importante é atender o público regional de acordo com suas características, e o ensino presencial ainda é o preferido pela grande maioria dos candidatos ao ensino superior com qualidade e profissionalismo.
“Futuramente poderemos adotar o EAD se esta for a principal demanda regional, mas no momento preferimos investir na constante melhoria do nosso espaço físico, no aprimoramento do nosso corpo docente, no ensino de qualidade e, principalmente, na valorização do elemento humano”, assinala o reitor.