Forrageio são aqueles predadores que esperam pela presa. Sentam e esperam. É o caso da aranha, dos escorpiões e de algumas serpentes que, estrategicamente, são surpreendidas pela caça. A tática não lhes falha.
É desta forma que o Poder Judiciário age: ataca quando acionado. Ocorre que, com o estouro dos grandes e sucessivos escândalos de corrupção, a justiça tem ocupado o primeiro plano do painel político. Trate-se do fenômeno da “judicialização da política”. Criticado por muitos, enaltecido por outros, é sábio entender os perigos do evento.
A sobreposição de poderes é antidemocrática, vai na contramão do sistema de freios e contrapesos preconizado pelos federalistas americanos. Na realidade brasileira, não obstante, o caminho, senão esse, não seria outro. É justamente o protagonismo do Judiciário que nos proporcionou a ida dos poderosos e corruptos ao xadrez. Antidemocrático porém eficaz.
No entanto, conscientes de que a judicialização da política esvazia o Poder Legislativo — e, por conseguinte, o poder do povo — o caminho que está sendo trilhado é irrevogável. Até porque conta com apoio popular. Trata-se da maneira que a nova geração do Judiciário encontrou para silenciar de vez o ruído que atormenta as nossas instituições há séculos. Este é o ponto: paulatinamente nos vemos delegando o nosso poder para outro — um poder sobre o qual não temos a menor autonomia, muito embora regojizamos ao vê-lo em ação.
Contudo, enquanto não nos sentimos representados pelo Congresso, aranhas, escorpiões e serpentes forrageiam aos nossos pés. Lembremos, portanto, que são as presas que vão ao seu encontro. Não haveremos de preocupar. Deixe-os trabalhar.
Por Guilherme Scarpellini